Galerinha, mais um texto do nobre Geraldo Silva.
"Se o distinto reparar bem, verá que o mundo, olhado com a devida atenção, tem mudado pouco. Quase nada. Nessas décadas todas em que caminho sob o sol, quis sempre crer na mudança como elemento central da historia da humanidade e, no entanto, a serenidade vinda com os anos diminuíram minha miopia e a vista do meu ponto entrega uma mesmisse assustadora.
Há tempos, antepassados meus foram cassados África à dentro, transportados Atlântico afora, escravizados nestas terras... A polícia, a discriminação, a desigualdade social e étnica têm complementado o serviço ao qual o referido processo deu início e a Lei Áurea fez o meio de campo. Há milênios, civilizações humanas têm, na sua maioria absoluta, destinado espaço subalterno e indigno à mulher. Temos submetido nossas irmãs, filhas, mães e companheiras á condições degradantes que vão da desconfiança quanto a sua capacidade intelectual à violência física e simbólica, incluída aí a violência sexual. Temos organizado o mundo à nossa maneira (coisa de macho), e imposto uma hierarquia tão imbecil quanto nefasta.
Processos civilizatórios, ditos - por nós - primitivos, atrasados, resolveram muitíssimo melhor, questões como as diferenças de gênero, por exemplo. Na contemporaneidade isso tem sido uma dificuldade até para as tentativas de construção de sociedades socialistas. No Brasil, fizemos o ECA (um avanço), mas são incontáveis os infelizes que reclamam de não poderem mais "punir" infantes infratores como nos bons tempos. Elaboramos o Estatuto do Idoso e são poucas as mentes que percebem a grandeza de se ter velhos por perto. O Estatuto da Igualdade Racial gerou tanta discussão e quase nenhuma ação prática. As leis nº 10.639 e nº 11. 645 pouco têm evoluído na sua implementação sob o governo do Senhor Richa filho, mas ele... Bem, ele não respeita a educação em nenhum aspecto, nesse então...
É, de fato, tanta incompetência da nossa parte que uma pergunta emerge do fundo de nossas almas (ou o que resta delas): somos predadores a tal ponto que não nos basta destruir a natureza do planeta, tendo de desconstruir também a natureza humana?
Gostaria, mas não consigo desistir da ideia de um outro mundo possível. Sabedor de que os movimentos históricos são lentos e que, na longa duração, a linha do tempo se parece mais com uma reta que com uma espiral; ainda assim insisto na visão poética da mudança. A equidade. Ah, a equidade... Não me venha, à moda do confeiteiro desprevenido, dizer que "o sonho acabou". Não sabe brincar, não desce pro play! Ou, como diria Chico Cesar: "Eu sei como pisar no coração de uma mulher. Já fui mulher, eu sei. Já fui mulher, eu sei"."
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